O Tropicalismo foi um movimento crítico, de revisão dos valores ideológicos da Música Popular Brasileira, que surgiu no final da década de sessenta, através de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Rogério Duprat e Os Mutantes (grupo formado por Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias).
Sua aparição pública ocorreu durante o III Festival da Canção da TV Record, em outubro de 1967, com as músicas Alegria Alegria, de Caetano Veloso, e Domingo no Parque, de Gilberto Gil, causando um grande e verdadeiro impacto através dos arranjos musicais inusitados, que misturavam ritmos brasileiros a guitarras elétricas. A partir daí, esses instrumentos, até então malditos pelos mais conservadores, passariam a ser utilizadas com frequência pelos tropicalistas.
Além dos nomes acima relacionados, o movimento revelaria as grandes cantoras Gal Costa, Maria Bethânia e o grande compositor Jorge Ben Jor.
A televisão foi a principal fonte divulgadora dos shows e discos produzidos pelos integrantes do movimento, e um dos seus principais divulgadores nesse meio de comunicação foi o mais Tropicalista de todos: Chacrinha, o "Velho Guerreiro".
Em 1968, com a gravação do disco Tropicália ou Panis et Circenses, onde ao lado de Gilberto Gil e Caetano Veloso estavam os Mutantes, Rogério Duprat, Tom Zé, Gal Costa, Torquato Neto, Capinan e Nara Leão, o Movimento Tropicalista registrou um grande manifesto cultural sonoro e poético, que se tornou a síntese do Tropicalismo - fruto da união de diversas tendências, como o tango dramalhão "Coração Materno", de Vicente Celestino, a influência dos Beatles e do rock em Panis et Circenses e a requintada Bossa Nova. Tudo isso nas vozes de Gal Costa, Nara Leão e do próprio Caetano.
Os Tropicalistas usavam recursos variados para compôr suas músicas e criaram uma poética própria. Sofreram influências do cinema novo e dos textos de vários críticos e cineastas, como Paulo Emílio Sales Gomes, Gustavo Dahl, Jean-Claude Bernardet e, principalmente, de Glauber Rocha.
Em setembro de 1968, Caetano Veloso foi vaiado ao apresentar a música É Proibido Proibir, de sua autoria, no III Festival Internacional da Canção, e reagiu agressivamente, com um longo discurso, às manifestações do público, que não concordava com suas ideias tropicalistas.
No final desse mesmo ano, com a promulgação do AI-5, Caetano Veloso e Gilberto Gil foram presos por agentes da Polícia Federal, sob pretexto de desrespeito ao Hino e à Bandeira Nacionais, ficando incomunicáveis.
Em junho de 1969, Caetano e Gil se despedem do Brasil com um show em Salvador, onde é lançada a música Aquele Abraço - de autoria de Gilberto Gil - e saem voluntariamente para o exílio em Londres. Assim, chega ao fim prematuro um Movimento cujas marcas ainda podem ser observadas na Música Popular Brasileira.
Disco Topicália ou Panis et Circencis
Curiosidades
O protesto que a ditadura não notou
A canção “Soy Loco Por Ti, América” (Gilberto Gil e Capinam) é um tributo ao revolucionário argentino Che Guevara. Foi escrita por Capinan logo após a morte de Che, na Bolívia. Trata-se de um poema lírico, em oposição às ditaduras de direita espalhadas pelo continente.
Na impossibilidade de citar o nome, Capinan forja sua poesia em jogos metafóricos em português e castelhano - língua de Che e idioma dos demais países latino-americanos:
("El nombre del hombre muerto / Ya no se puede decirlo, quién sabe? / [...] / El nombre del hombre es pueblo")
A letra reafirma a resistência política, pelo menos na arte:
("Um poema ainda existe / Com palmeiras, com trincheiras / Canções de guerra / Quem sabe canções do mar") e alterna a esperança por dias melhores ("Espero o amanhã que cante / [...] / Não sejam palavras tristes / Soy loco por ti de amores")
Ao mesmo tempo prevê o exílio dos dissidentes, com a constatação do momento político complicado na região
("Antes que a definitiva / Noite se espalhe em Latino América").
(Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural)
Capa do álbum “Capinan - 21 anos de tropicalismo”